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terça-feira, 11 de junho de 2013

Meu Arraiá do Licuri - Que saudade!

Queria me apegar a uma frase de um tio meu lá do Rio Grande do Norte que diz: Tempo bom é hoje!
Ele diz isso quando alguém se esconde no passado por alguns segundos e sussurra: “Ô tempo bom foi aquele!!”
Como ele já passou da casa dos sessenta, reforça a ideia de que bom é hoje. Antigamente não tinha nada disso, como televisão, estradas, internet, etc...Como papai também costuma dizer: “o mundo furou”.
Eu sou do contra. A cada dia que passa esse furo no mundo me deixa mais antigo. Eu gosto de ser antigo – não tão como Marcão – mas gosto de contar histórias, de lembrar das coisas vividas na infância e na época do colégio, principalmente.
E é justamente essa época que me traz aqui, depois de alguns dias sem escrever.
Hoje, 11 de junho de 2013. Quanta coisa boa eu e meus amigos vivemos nesta época.
A começar pelo tradicional - e hoje morno – Arraiá do Licuri, na minha queridíssima Serrolândia, cidade dos meus amigos do coração Bianquinha e Heitor. Outras figuras também deixam a cidade com aquele ar de inesquecível. São eles Beto, Afonso, Fred, os pais de Bia e Thola, os blocos e, claro, as infinitas mulheres que sempre estavam prontinhas pra o Forró.
No meu primeiro ano do ensino médio, no meu amado e inesquecível Yolanda, combinamos de ir pro Serrote, passar o final de semana do Arraiá. Ficaríamos na casa de Bia, todos felizes e satisfeitos. Passarinho quando saía da gaiola perdia pra felicidade da gente.
Acontece que é também nessa época que o boletim da primeira etapa chegava às nossas mãos. Seis estrelas e um desespero. Estava perdido em matérias bobas, que certamente me impediriam de ir com a galera. Foi aí então que peguei Fabiane pelo braço e fomos fazer o que a gente sabe de melhor. Aprontar!!
Pegamos notas do boletim de Jéssica (melhor aluna da turma) e fomos colando por cima do meu. Fomos até a Digicop (praça da Bíblia) pra tirar xerox colorida e mostrar aos meus pais. Lá um pequeno problema. Pro Josianne morava por perto e certamente estaria por lá. Dito e feito.
Fomos então para outras copiadoras, tiramos vários modelos pra saber qual ficaria melhor. Lembro como hoje que todas as pessoas que tiravam a cópia ficam com um sorrisinho de lado, meio que pagando pau pra nossa invenção. Era realmente um plano infalível.
Depois de várias copias, recortar o pequeno boletim da folha de ofício e escolher o melhor, fui pra casa.
Esperei a noite cair, papai chegou da JMC, mamãe da Receita e eu assistindo minha novela das seis, como quem não queria nada.
Na hora da janta simulei um repente e disse:
- Ô rapaz, quem saiu hoje foi o boletim.
Nessa hora, com a colher da sopa na boca e a cabeça baixa, só levantei a parte branca dos olhos junto com as sobrancelhas.
- Vocês querem ver?
Ninguém disse nada, o que significava que queriam. Peguei e mostrei. Ele passou rapidamente pelas mãos dos meus pais que pouco notaram. Nas mãos de Sara não poderia passar desapercebido.
- Isso tá muito estranho... – Disse.
Com as notas boas em mãos, sorridente pedi pra ir passar o feriado de Santo Antônio em Serrolândia. Para a minha surpresa inexplicável, recebi um não. Não, você não vai. Deixa pra próxima.
Mas como não ir? Todos iriam! Novamente só eu? Não era proibido proibir? Eu estudei a etapa toda pensando nesse final de semana. Seria novamente injusto.
Tudo bem que o boletim era falsificado, mas ninguém sabia. Eu já era grandinho.
Para eles, não fiz mais do que minha obrigação em ter passado em todas, até porque não pagava uma conta, não lavava um prato, apenas o carro. Além do mais, eu não era todo mundo.
Quem nunca ouviu isso?
O ano passou, meus amigos foram pra Serrolândia e somente dois anos depois (terceiro ano ensino médio) tive o prazer de ir. A história muda só o boletim, porque dessa vez eu perdi de verdade em três matérias e eles nada falaram. Acho que se compadeceram e me deram como prêmio a confiança de ir pra Serrolândia, como oportunidade de melhorar na etapa seguinte.
Fui eu, Caps, Zé e o dono da casa, Heitor.
Foram dois, três ou quatro dias, não me lembro. O que ficará na minha memória certamente será o final de semana por completo, que me deixou mais próximo deles. Cada aventura com os meninos era uma prova de que aquilo duraria pra vida toda.
Na primeira noite lembro que dormimos amontoados pra amenizar o frio e acordamos com a simpatia dos olhos verdes do pai de Heitor.
- Bora, meninada! Acorda!! Bora tomar um licor?
A gente acordou rindo. Como era massa ouvir um pai de um amigo oferecer um pouco de licor na resenha. Demonstrava a relação que ele tinha com os filhos. De amizade e confiança.
Abro um parêntese para dizer que fui criado num meio em que todos os pais dos meus amigos têm essas características.
Ocorre que eu tinha uma condição para ir nesse Arraiá. Na segunda teria que estar na aula, logo cedo, independente de qualquer coisa. Foi aí então que decidimos virar a noite de domingo pra segunda na farra, porque certamente não teríamos sono.
Triste engano! Entramos no carro, aquelas Veraneios de mil novecentos e bolinha, junto com Maiara e Fabi que tavam na casa de Bianquinha e fomos pra Jacobina.
Cheguei umas seis horas, fui pra casa e deitei. Deitei apenas pra me frustrar, porque em seguinda papai abriu a porta mandando ir pra aula.
Tomei aquele banho e fui assistir a bendita. Sabia que pouca gente ia estar. Apenas os que os pais impuseram, como o meu.
Ao chegar, tenho a notícia de que não haveria aula. Foi aí então que finalmente pude ir pra casa, dormir minha noite de sono perdida.
Toquei a campainha de casa e ouvi a voz de papai. Juro que não queria ouvir a voz dele nessa hora. Bastava ele já ter ido pra Mineração. Soa até como pecado.
Subi as escadas e disse que estava com dor de barriga e que logo voltaria pra o colégio. Tranquei a porta do quarto e deitei. No cochilo bom ele tenta abrir a porta, não consegue e deixa o recado que estava indo escovar os dentes, mas na volta iríamos juntos pra escola.
Mesmo explicando que não haveria aula, ele insistiu que teria que ficar lá, esperando o tempo passar. Não me importei muito, até porque o final de semana teria valido a pena e merecia qualquer contrapartida que ele fizesse questão. Vez em quando papai tem dessas atitudes impensadas, mesmo eu sendo consciente de que preciso desses freios.
Voltei pra o Yolanda, sentei com os amigos e fiquei durante toda a manhã deitado no colo magro de Fabi. Ficamos também ouvindo e pirraçando nega Maiara. Contávamos as histórias pra Jéssica – salvo engano ela não foi – que morria de inveja.
Foi ela também quem tirou uma das fotos mais bonitas que tenho. Uma das poucas que eu digo que realmente fiquei bonito. Vestido no capote rosa de Bia, com a lembrança de um final de semana e ao lado dos meus melhores.
E assim terminou a manhã da minha segunda feira pós Santo Antônio, com a sensação de que nunca mais esqueceria.
Que saudade de tudo isso! Tio Toinho (lá do Rio Grande do Norte) que me desculpe, mas meu coração tá apertado e preciso dizer:
Que tempo maravilhoso!!!