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domingo, 30 de outubro de 2011

Sábado de sol


Ontem, 29 de outubro de 2011, recebi ligações logo cedo de vários e bons amigos. Vinícius, o famoso Negão, Raonne e logo depois uma grande surpresa, o velho e sumido Itã.
Depois do almomoço fomos para a praia da Barra, assistir a apresentação da Esquadrilha da Fumaça, convite feito pelo S2 da Aeronautica, Felipe.
Sensação muito boa, de tranquilidade, de harmonia. Algumas rodadas de piriguetes (cerveja), risadas e ótimas ideias.
Com muita coisa pra se conversar, atualizar as novidades dos amigos, fiquei feliz com a desenvoltura de Raonne na Fattor Sistema e Consultoria, metido por ter tido o privilégio de ter assistido a Esquadrilha em lugar reservado para oficiais, cedido por Negão (S2 Felipe) e meio que besta por saber das coisas que Itã vem fazendo.
Iago Itã é um amigo de infância, assim como Netão, Daniel, Iago, Lorena, Inha, Marcel e tantos outros. Estudamos juntos no Yolanda desde pequeninos. Quebramos braços, joelhos, testas, pegamos micoses no parquinho a doidado, e fomos separados no terceiro ano.
Pró Cleide, nossa professora da quarta série é tia dele, o que facilitava, de certa forma, a permanência dele no colégio. Em 2009 ela saiu do colégio pra coordenar uma escola Municipal e Itã foi estudar no Colégio Modelo, que é sem dúvidas, um modelo de ensino das escolas públicas. Mexeu com toda a turma a saída daquele nosso amigo. Queríamos formar todos juntos, encerrar aquele ciclo estudantil da mesma forma que começamos. Mas quem disse que a gente não fez tudo isso? Volto a repetir! A amizade dessa turma é algo inexplicável, realmente diferente, especial.
Sabe aquela história que Deus escvreve certo por linhas tortas? Como não concordar com isso? Itã fez um concurso pra ser estagiário da Defensoria Pública da nossa cidade. Pré requisito era ser estudante do terceiro ano do ensino médio e de escola pública. O resto, todos os outros passos que ele percorreu foi mérito dele, a nossa escola particular não teve participação nenhuma. Digo isso porque ele sentava no fundão, bagunçava, aprontava, mas as provas e as médias eram superiores aos demais. Sempre foi diferenciado. E agora, escola particular? Nosso ex aluno é aprovado em concurso? Não!! Eles não teriam essa coragem. Com várias turbulências na escola e com a ciência de que a nossa turma tinha um poder revolucionário, eles não cometeriam esse erro. Certamente tomaríamos decisões que não iriam agradar a direção. Ele trabalhava pela manhã no Fórum e estudava a noite.
Fórum e o Colégio Yolanda são vizinhos, separados por uma garagem sem muros. Ele aparecia na janela do Fórum e era só alguém ver que a euforia tomava conta.
- Itãã! Zubiga! Viadoo!! Apareça, seu viadinho!!
Uma colega de trabalho, Gisele, também aparecia e ficava rindo meio sem graça ao ver tanta gritaria.
- Aê Itã, ta namorador que tá danado... quem é essa? Eu vou, viu? Chama ela, chama!
Os gritos tomavam conta de todos os sobreviventes do terceiro ano. Os professoras nem se animavam pra mandar calar a boca ou se sentar, não adiantava. Folhas dos cadernos eram coladas nos vidros da sala expressando a saudade, avisos ou qualquer besteira.
Outra passagem mais do que interessante e que ainda vou contar aqui foi a viagem pra Guaimbim. Mas é claro que ele tinha que tá entre a gente. Éramos ainda a mesma turma. A viagem era da galera, não era do colégio. Aula de campo a gente faz para a "Escola Agrícola", a gente tava indo com outros fins. A formatura também ele estava presente, assim como outros que por outros motivos tinham saído do colégio.
O motivo de tá contando isso tudo é único e exclusivamente pelo egresso do nosso amigo onde todos os estudantes sonham. Ele, Isis e Heitor tiveram a destreza de estudar na UFBA. Com certeza deve ter sido outro arrependimento ter perdido aquele aluno, a escola particular mais uma vez perdia pra ela mesma.
Hoje ele é aluno pesquisador do curso de Gestão Social e Política da Universidade Federal da Bahia, atuando em áreas que precisam, de fato, do empenho e interesse de homens como ele. Projetos aliados a Petrobrás é um dos três serviços que ele vem desempenhando em cidades do recôncavo baiano. Madre de Deus e Cachoeira estão sendo contempladas.
É sem dúvidas um grande passo pra um mestrado. Vou ter muito orgulho de ter um amigo mestre, doutor de verdade, phd em saber ajudar.
Mas e a tarde de sol? É mesmo... eu começo numa coisa e termino n'outra. Tá pra nascer igual.
Depois do espetáculo da esquadrilha da fumaça contínuamos as conversas até que falei da caminha da diversidade que eu tava querendo fazer em Jacobina. Ele arregalhou os olhos e falou de bate-pronto:
- Keu! Esse poderia ser o primeiro passo do nosso grupo!
Quando viemos aqui pra Salvador tínhamos em mente a criação de uma associação, mas foi esfriando e não deu em nada. Ontem a ideia voltou à tona, dessa vez com mais força, com objetividade. Com a nobreza da sua inteligência, ele me alertou sobre essa caminhada da diversidade, me mostrou um viés que ainda não tinha conseguido enxergar e que ainda não posso revelar.
O que nos interessa mesmo nesse monento é que a conversa foi mais do que proveitosa, iremos nos reunir pra discutir sobre o projeto, o que não nos impede de tomar uma cerveja, até porque Karl Marx escreveu "O Capital" bebendo absinto.

domingo, 23 de outubro de 2011

BA x VI - e a história continua



A história política jacobinense sempre foi marcada por disputas acirradas entre grupos que se revezavam no poder, tradicionalmente, com duas facções duelando alternadamente pelo controle da municipalidade. O acirramento entre as forças políticas chegava a tal ponto que, numa demonstração de força, a feira livre mudava de local sempre que havia alteração no controle do Paço Municipal.

Essa contenda, que contaminava a tudo e a todos, interferia também na vida social dos moradores. Um exemplo típico era o clima beligerante que havia entre os dois principais clube sociais da cidade, a Sociedade Aurora Jacobinense e a 2 de Janeiro - quem frequentava a 2 de Janeiro, estava excluído da Aurora, e vice-versa.

Mas, voltando à área política, esta semana, numa das minhas leituras sobre Jacobina, deparei-me com uma entrevista de face dupla, publicada pelo jornal Nordeste Baiano, periódico já extinto, que circulou na região no ano 1967, e que tinha como seus diretores os então jovens Robério Wanderley e Robério Marcelo.

Seguindo a lição número um do bom jornalismo, que é ouvir os dois lados, o jornal Nordeste Baiano teve uma ideia brilhante: entrevistar, à época, os dois maiores líderes políticas de Jacobina. De um lado, o deputado estadual Rocha Pires, com militância na ARENA, PR, PSD e UDN; do outro, o também deputado estadual Edvaldo Valois, com passagem pela a ARENA, PSD e PSP.

A matéria é um documento primoroso, pois, revela claramente a dicotomia existente entre as duas principais forças políticas locais. Outro ponto importante da entrevista é que as palavras de Chico Rocha e Edvaldo Valois, ditas há quase 45 anos atrás, ainda continuam atuais.

Na época, o jornal tabulou dez perguntas, com igual teor, para que fossem respondidas pelos dois deputados. Confira a seguir alguma das respostas de Chico Rocha e Edvaldo Valois:

Qual sua opinião sobre a juventude jacobinense?

- Chico Rocha: “A juventude jacobinense é promissora. Voltando o meu espírito para o passado, apesar de não termos tido o que hoje temos, a mocidade da geração presente promete se destacar no futuro”.

- Edvaldo Valois: “A juventude de minha terra é alvo de admiração pela sua participação na vida estudantil, social e política, o que é indispensável para o desenvolvimento de uma cidade como Jacobina”.

O que Jacobina precisa com mais urgência?

- Chico Rocha: “A ligação asfáltica, escola de nível superior, instalação de indústrias”.

- Edvaldo Valois: “No setor administrativo, a ligação asfáltica à Rodovia Lomanto Jr. em Capim Grosso, um hotel de primeira classe, construção do Fórum e a instalação de uma faculdade. No setor político, autoridades políticas à altura dos cargos, isentos da paixão politica, para combater a corrupção existente em nosso meio”.

Jacobina é economicamente independente? Por que?

- Chico Rocha: “É. Porque tem vida própria. Seus habitantes, embora não possuam grandes fortunas, possuem relativa independência econômica”.

- Edvaldo Valois: “Sim. Em função do seu comércio, da pecuária, da agricultora, e também de suas pequenas indústrias”.

Como gostaria V.Exa. de encerrar sua carreira política? Voltaria a se candidatar a prefeito de Jacobina?

Chico Rocha: “Depois de Jacobina ter recebido a luz de Paulo Afonso e quando a fita asfáltica aqui chegar. Na hora definitiva encerrarei a minha carreira política parlamentar. Quanto à segunda pergunta, digo que se ainda tiver a mesma fibra que hoje disponho, será para mim uma honra muito grande encerrá-la como prefeito de minha querida terra”.

- Edvaldo Valois: “ Seria uma honra muito grande para mim encerrar a minha carreira política como prefeito da minha terra”.

Poderia V. Exa. citar-nos três nomes capazes de lhe suceder na política municipal?

- Chico Rocha: “No momento poderei citar os nomes dos doutores Orlando Oliveira Pires, Florisvaldo Barberino e José Pires Veloso. Veja, porém, que dentre os moços que estão nas escolas superiores, certamente há de surgir um deles que tenha o mesmo amor que tenho pela hoje velha e moça Jacobina”.

- Edvaldo Valois: “Não. Dada a capacidade e qualidade dos inúmeros amigos que possuo e como também poderá surgir na nova geração jacobinense ilustres e capazes para tal fim”.

Qual sua opinião sobre o deputado Edvaldo Valois?

- Chico Rocha: “Em virtude de nossas relações estarem cortadas, me julgo suspeito de fazer qualquer referência”.

Qual sua opinião sobre o deputado Francisco Rocha Pires?

- Edvaldo Valois: “Trata-se de um político antigo e que politicamente não tem evoluído, usando ainda por isso métodos arcaicos, vestígios do tempo do coronelismo, o que o impede de fazer o seu substituto político”.

O deputado Rocha Pires faleceu em 9 de abril de 1974 sem deixar um substituto político. Já Edvaldo Valois faleceu anos depois, em 25 de junho de 1988, também sem deixar um substituto.

Com a ausência desses dois líderes, Jacobina perdeu muito da sua representatividade politica na esfera estadual e federal. Porém, mantendo uma tradição histórica, a disputa política entre dois grupos locais se mantém. Continua o BA-VI.

João Batista Ferreira – é radialista e diretor do site Notícia Livre.

FERREIRA, João Batista. Chico Rocha x Edvaldo Valois: Duas lideranças, dois pontos de vista. Jacobina, Ba. Disponível em: http://www.noticialivre.com/

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Congresso de Direito Penal



Nos dias 14 e 15 de outubro participei do meu primeiro congresso como acadêmico de Direito. Tendo como tema central “As novidades legislativas do Direito Penal e do processo penal. A reforma do CPP, a nova lei de prisões e outras questões relevantes”, o nono encontro promovido pelo Jus Podivm me deixou um pouco ansioso, me lembrando das madrugadas que mal dormia esperando o dia amanhecer pra montar a cavalo.
Presença de nomes de peso, aqueles que a gente lê nos livros e diz na hora de estudar com os colegas: Você quer saber mais que tio Greco? A presença dos professores Gamil Foppel e Yuri Carneiro também me instigava. São professores dos meus amigos e futuros colegas de profissão, Daniel e Marcão, respectivamente.
Com abertura oficial feita pela respeitada doutora e baiana Maria Auxiliadora Minahim, a showlestra, como brincou o mestre de cerimônia, começava com tudo. Um hino nacional cantado por poucos e alguns vídeos de Luís Flavio Gomes, o dono da famosa rede de ensino LFG.
LFG ensaiou uma entrada triunfal, mas não deu muito certo. Foi interessante, entrou pelo corredor central do centro de convenções, nos assustando, arrancando poucas palmas. Nos saudou, agradeceu a presença dos quase dois mil estudantes e começamos, finalmente, a falar sobre o que nos interessava.
A comissão da verdade – Falamos da comissão da verdade, já aprovada na Câmara dos Deputados e na eminência de ser aprovada no Senado Federal. Serão sete membros que irão apurar, processar e julgar os crimes contra a humanidade, com uma atenção voltada à ditadura, guerrilheiros, torturados e torturadores.
O SFT validou em 2010 a lei de anistia que é de 1979, contrariando todos os tratados internacionais e princípios, como por exemplo, Pacta Sunt Servanda. A corte americana, representada pela 5ª instância (Sistema interamericano de Direitos Humanos) obrigou o Brasil a processar e julgar casos como o de Battisti, efetivando a famosa dignidade da pessoa humana. O professor LFG ainda deu dicas sobre como estudar o Direito, os novos enfoques senão o da legalidade, que certamente nos farão operadores conscientes. Além das leis e dos códigos, devemo-nos atentar sobre os tratados internacionais, jurisprudência interna, Constituição, Direito Universal e Jus Cogens.
Em seguida veio a professora Alice Bianchini que particularmente falou algo que nunca tinha ouvido falar. Constitucionalidade é comum no curso, analisamos as ADI, ADPF, ADC, mas ela nos trouxe a convencionalidade de uma lei. É convencional a Lei Maria da Penha? Como não? Claro! Mas seria convencional aplicá-la também aos homens? Ela garante que não. Divergindo de outros doutrinadores presentes no congresso. Estranho seria se não tivesse um divergente. Vale ressaltar um dado importante sobre a lei 11.340. Fomos o décimo oitavo país a criar uma lei que protegesse a mulher, mas é a terceira mais avançada.
Um dos nomes mais esperados do Congresso, o responsável por pagarmos tão caro é Rogério Greco. Escritor, professor, um exemplo pra quem quer ser algo na vida jurídica. Nos trouxe temas como adequação social, legalidade e a insignificância, princípio que o STF não mais vem admitindo com tanta firmeza, o que pra mim é mais uma gafe política do Supremo. Correto dizer que se um dos elementos do furto for complexo, não devemos aplicar a bagatela. Falamos, ainda, da mulher Ket Chup, estelionato, frisando que é um problema que não deve ter o Direito Penal como solucionador de determinados problemas.
Nestor Távora, um nome não muito falado nos corredores, mas pra mim, uma grande surpresa e uma das melhores palestras. As idéias são muito parecidas como a do meu professor de Direito Penal e Criminologia, Ney Menezes. A diferença é que Ney é mais didático, mais sala de aula, mais sereno. Nestor é a cara do Júri, a firmeza e o poder da fala de um penalista juramentado. Falou da reforma do código de processo Penal, a questão do flagrante e prisão provisória, sendo dois assuntos extremamente relevantes e que ainda não tenho competência pra discorrer com constância.
Criticou os titulados magistrados e promotores de justiça que se esquecem das suas responsabilidades práticas com suas titulações à mostra. Simulou um diálogo de um preso que perguntou:
- Doutor, até quando vou ficar preso?
- Até quando o juiz quiser. Ou talvez ad eternum – Ironizou Távora.
Quando me referi sobre a semelhança dos dois professores, falava sobre a nova forma de pensar o Direito Penal, o respeito e a não banalização do cárcere, os dois pesos e duas medidas que são atribuídas aos crimes comuns e os crimes tributários, que o STF admite a insignificância até dez mil reais. Referia-me também sobre a liberdade, sendo a regra, e não a exceção.
Chegou a vez de Yuri Carneiro. A vez do professor de Marcão. Muita ansiedade pra ouvir o amigo do meu amigo, que é meu amigo, segundo as regras fundamentais matemáticas. Teve como sub-tema as formas garantistas do Direito Penal, propondo a institucionalização dos princípios, os tornando instrumento de aplicabilidade e de segurança pública. O primeiro plano, de acordo com Yuri, seria a liberdade. Segundo plano as medidas cautelares, e por fim, a prisão. Criticou o Estado que quer tornar o Direito Penal o solucionador dos problemas sociais.
Aury Lopes Junior, outra grande e boa surpresa. Discorreu sobre as provas no processo Penal. Papel cognitivo (conhecimento dos fatos ao juiz) e o papel persuasivo (convencimento), o que me fez lembrar de duas pessoas. Saíze e Michele, uma amiga e uma professora, ambas compartilham com a falsa idéia de que tenho um bom poder de persuasão. Aury brincou dizendo que nos tribunais esbraveja com o magistrado;
- Doutor, o senhor é um ignorante!!!
Nós duvidamos muito que ele seria capaz de tamanha audácia, mas entendemos a razão. O sentido ignorante seria o juiz ignorar os fatos, tornando-se totalmente imparcial nas suas decisões. O flair play (jogo limpo) é imprescindível nos tribunais, para que não estejamos sujeitos a situações que a sociedade e a mídia condenam antes mesmo de analisar friamente dados e fatos.
Muito brincalhão, fez alusão ao latim “in dúbio pró réu”, que na dúvida, o réu seria automaticamente inocentado, mas na verdade, os magistrados preferem o “in dúbio pau no réu”, procurando algo para incriminar determinados cidadãos que tenham, de acordo com as sentenças, personalidade voltada para o crime. Ainda meio com um stand-up comedy, nos perguntou o que era o flagrante. Explicou que o flagrante nos remete a um caráter alucinatório, e o processo serve pra corrigir essa alucinação.
Chega então o segundo dia de congresso, um sábado com muito sol que pedia praia a todo o momento. Acho que foi de propósito. Aliás, não acho não. Os organizadores não previam que a palestra do juiz Helvécio Argolo seria tão boa. Direito de punir e direito de vingança foram os temas tratados por Argolo. Expressões como alteridade, etiquetamento e sentimento de igualdade mais uma vez me remetia a uma lembrança do meu professor de Penal, Ney Menezes, o que de certa forma me conforta. O homem busca uma recompensa através da pena, através da falsa ilusão que vai corrigir o cidadão. O juiz Helvécio foi aplaudido de pé, com um emocionante discurso depositando todas as suas forças e esperanças na nossa geração, que a dele, com suas próprias palavras, não tem mais nada pra nos oferecer.
A Unijorge foi muito bem representada pela professora Thais Bandeira que nos esclareceu a respeito da LEP (Lei de Execuções Penais – 12.433). Tinha uma grande responsabilidade já que Dr. Helvécio teria arrancado daquelas cadeiras bundas preguiçosas para aplaudi-lo. Acho que deu mais força e ânimo a professora, que começou falando do processo de penal, sendo este, um jogo de verdades, ou não. Penas alternativas, serviço comunitário obrigatório, as maneiras distintas de enxergar a pena, prevenção geral, oferecendo uma pseudo sensação de segurança e conforto.
Alguns outros dados e temas foram abordados pela professora Thaís, alguns de muita importância pra quem está lendo o blog, mesmo não tendo ligação com o curso. Os prisioneiros recebem o chamado “pecúlio”, o que Datena, Ana Maria Braga, Bocão e Uziel Bueno chamam de mesada para bandido, que auxiliam suas famílias e que servem para comprar utensílios dentro da cadeia. Lembramos, portanto, que estamos falando aqui de produtos lícitos. A remição, também tratado pela professora, que nada mais é que a diminuição da pena. A cada três dias trabalhados, um a menos na pena. A cada doze horas na sala de aula, também, um dia a menos na pena.
Outra importante curiosidade trazida pela brilhante Thaís Bandeira, que ainda não tive o prazer de ser seu aluno, é o que a gente sempre se pergunta quando alguém é julgado e condenado a mais de 30 anos de cadeia, sendo que a legislação só permite que seja recluso até os 30. O cálculo da remição é feito através da pena que lhe foi aplicada e não os trinta que é legal. Finalizou sua brilhante palestra sobre o RDD (regime disciplinar diferenciado), que eu também ainda não sei muito a respeito.
Fernando Capez, deputado Estadual de SP, com toda sua simpatia e elegância, típicos dos políticos, discorreu sobre a teoria constitucional do Direito Penal. Fez menção a teoria tridimensional de Miguel Reale (fato+valor+norma) substituída pelo novo método que adotamos. Réu + Crime + Cadeia. Depois de ultrapassar o limite do seu tempo na palestra, atrapalhou o nosso horário de almoço e foi aplaudido também de pé, depois de contar algumas piadas. Eu, particularmente, levantei porque tava com pressa.
Antonio Sérgio Pitombo e Sebástian Albuquerque convergiram nas idéias e explanações. Favelização do Direito Penal foi um termo utilizado. A dica de fugir dos autores comerciais e da mídia que maltrata o sistema penal nos foi dada. A lavagem de dinheiro foi tratada por Pitombo, deixando claro que não oculta o bem, e sim, a origem daquele bem. Finalizou nos alertando, já que o direito Penal não é algo simpático, é técnico.
Um dos últimos palestrantes foi Renato Brasileiro, falando a certa da nova lei de prisão. Tramitou quase dez anos e estabelece, desde já, medidas excepcionais que relaxam a prisão. Medidas cautelares de caráter pessoal, prisão domiciliar substituindo a preventiva em hipóteses taxativas e o flagrante em preventiva, concedendo a liberdade provisória com ou sem fiança.
De certa forma, nos casos que burgueses são atropelados, advogados são indiciados por embriaguez e políticos são flagrados, causam uma indignação na sociedade que se sente impune e questiona: Onde está a justiça desse país? Espero que você que tem uma certa condição e está lendo esse texto precise um dia de um princípio, uma norma que afrouxe seu escândalo, para que por fim, saiba a real função da Constituição Federal, que serve à todos, indistintamente. Quero que termine essa leitura sabendo que a prisão é exceção, a liberdade é regra. Quero que saiba que a pena não corrige, a pena maltrata e desmoraliza. Sintam-se envergonhados pela ausência de uma ação civil pública ou ação do Ministério Público. Vamos esperar dessa nova geração soluções, porque foram quase 25 horas de palestra, mas ninguém nos deu a solução.

sábado, 8 de outubro de 2011

Urologista



Coça, arde, incomoda, irrita, preocupa.
Tempos atrás me apareceu uma danada de uma “bicheira” na cabeça do pênis. A namorada na época era uma enfermeira formada, então, não precisaria consultar os dotes medicinais de Gi, o que me aliviava profundamente. Ainda sem muita gravidade, apresentei o problema e pedi pra que fizesse um oralzinho ali mesmo, fazendo jura que ao tocar sua boca curaria como o beijo dos contos de fadas. A resposta foi um tapa e uma exclamação: Nojento!!
Como a gente sempre acha que vai melhorar no outro dia, o meu pênis quase invisível parecia está com medo daquela inflamação. Ele não é pequeno... Deixa disso! A maioria das que estão lendo sabem disso. Era medo!
No domingo seguinte esperando a melhora cair do céu, passei o dia na roça de Gi com alguns familiares que chegara de São Paulo. Convites pra comer, pra beber, pra dançar. Nada me fazia sair debaixo daquela sombra do pé de jaca, pensando em que diabos estava acontecendo comigo. HIV? HPV? Um aviso? Usa camisinha, Cleuber... avisava o meu anjinho do lado esquerdo.
Na segunda tive que contar à Dips. O filho da puta ria da minha cara e dizia:
- Eu avisei pra usar camisinha... Eu avisei!
Eu sei que avisou, mas ninguém queria o aviso dele mais não, queria mesmo uma solução.
Foi ai que me lembrei do famoso urologista João Cleber.
Envergonhado, criei coragem e fui até a recepção. Estranho seria se a moça fosse desconhecida, porque Jacobina é grande... vocês sabem! ¬¬
- Oi! Quanto é a consulta?
Meio sem acreditar o que estava fazendo lá, a moça responde:
- Cem reais.
- Aceita plano de saúde Assefaz?
- Não. Aqui trabalhamos apenas com particular.
Vejam só que beleza! Vou ter que arranjar dinheiro não sei de onde... Peguei o cartão de papai e marquei uma consulta. Informei a Dips, a namorada e pronto. Fui esperar a consulta sentadinho com os velhos que estavam prestes a receber uma dedada.
Ao entrar informei dados que precisaríamos pra dar continuidade à consulta.
- Nome...
- Cleuber Augusto de Souza...Fagundes.
- Fagundes? Perguntou Dr. João Cleber. – Aquele meu vizinho?
- Isso mesmo. Somos vizinhos.
A vergonha ficava do tamanho do mundo, mas aos poucos a gente ia conversando sobre as várias festas que tem lá em casa, sobre namoro, cuidados, deixando a consulta mais informal.
Ao perguntar sobre o que tinha não sabia muito bem o que dizer, disse apenas que tinha acordado naquela segunda com uma coisa estranha no pênis.
Pediu pra ir à outra sala e foi examinar. Desde as consultas com Drª. Aparecida que ninguém estranho pegava no meu foguinho.
Na volta ele disse brincando que eu era um irresponsável. “Você deve ter namorada...” apostou sem ter medo de errar. Mostrou algumas fotos, leu algumas legendas sobre como ficaria o meu pênis caso demorasse mais de ir ao médico.
- Ainda bem que você veio logo – completou.
Mal sabia que o problema já ia em quase uma semana. Passou uma receita com duas soluções, uma mais em conta e outra caríssima. Vocês acham que optei por qual? Justamente! Eficaz do mesmo jeito.
Agradeci imensamente pela consulta, por mostrar a solução pra um dos membros que mais gosto e necessito. Não desmerecendo os demais, papai do céu. Perdão!

Dia do Amigo



Acordamos logo cedo pra curtir um dia na roça. Ver “painho”, ver o famoso Chico, olhar os cavalos, as muitas e bonitas cabeças de gado, os pastos, os amigos da redondeza.
Parece que o dia dos amigos é dia vinte de julho, mas eu não estava nem ligado. Me pegou lá em casa de moto, botei a espora e o chicote – como diz a música – saímos calmamente até a loja de agropecuária mais próxima pra comprar alguns vermífugos. Na saída de uma dessas casas recebi uma mensagem de uma amiga, desejando o feliz dia dos amigos. Quando li eu comentei com ele.
- Hoje é dia dos amigos... sabia?
Dei dois tapinhas no ombro como se quisesse desejar algo, mas ficou naquilo mesmo.
- E é? Dia dos amigos...
Nenhum disse absolutamente nada, mesmo que fosse uma besteira qualquer pra marcar aquele dia. Acho que não precisou...
Chegamos, nos acomodamos, providenciamos os cavalos, banho, cela, montaria. Como sempre muito divertido, prazeroso. Lá na outra fazenda reunimos a boiada e fomos identificando pouco a pouco. Cada um, uma história, um dono, mas no fundo quem manda é “painho”. Curamos um bezerro retirando um ‘berme’ e colocando graxa pra mosca não pousar.
Na volta algumas apostas correndo com os cavalos, algumas dívidas que ainda tenho que receber, porque me deve vinte latinhas de energético até hoje. Maribondo ta velho, mas ainda é cavalo de homem. Mentira! Eu sempre ficava em ultimo. Foi-se o tempo que eu ganhava alguma coisa com o pobre do Maribondo. Na metade do caminho, assim como na ida, tinha um rio. Mais medroso que eu – acredite – pensamos e resolvemos ficar pra banhar os animais. Tira bota, calça, camisa, e a viadagem começa.
Brincadeiras de criança besta, jogar água no outro, medo das pedras que pisávamos no fundo do rio, histórias de jacaré e cobra d’água... Realmente, muita bobagem pra dois meninos que, como ele diz, já estão na faculdade. Mas foi aquele momento que a gente pôde viver o tal dia vinte de julho, aproveitar o dia dos amigos, que de fato somos fielmente.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O gentil do interior


Entrei na faculdade em 2010, 17 anos, uma namorada, zero pretensão e algumas admirações. Não me faltaram recomendações, avisos prévios das más companhias de droga por parte dos pais e de mulheres por parte da namorada.
Muito ansioso pra que tudo começasse, entrava na comunidade que se formava aos poucos no Orkut e ia conhecendo as figuras que vejo até hoje. Dos vários comentários que se faziam naquele espaço, estava ali um nome presente, sempre muito comunicativa, dando as boas vindas à galera, dizendo que tinha vindo do curso de psicologia na Unime e que tinha sede de conhecimento. Não se enganem... Era só impressão.
O tão sonhado primeiro dia chega, nem sei a minha sala direito. Vou à coordenação, procuro saber onde seria a minha sala, os veteranos me olham com sarcasmo e finalmente vou pra sala. Peço licença e me encaminho pra ultima cadeira da sala. Com a aula de filosofia super interessante, passo o olho pela galera com a caneta em punho, fazendo algumas observações e poemas lembrando do Yolanda.
Segundo dia de aula já mais tranqüilo, uma mulher chega atrasada e senta na frente, na mesma fila que eu, me atrapalhando um pouco a visão por ser alta. Termina, começa, começa de novo e eu sem me enturmar com ninguém. O único culpado era eu, já que tava com o corpo fechado, um pé atrás, fazendo comparações das pessoas dalí com os meus amigos do colégio, coisa que não vou achar jamais igual.
Outro dia qualquer cheguei mais cedo, já que temos ordem do STF (Superior Tribunal Familiar) de ir e voltar junto pra faculdade com Sara. Fui pra biblioteca e fiquei lendo um livro que até hoje nunca terminei. Chegou a menina que tinha escrito na comunidade que tinha sede de saber, que sentou na minha frente na sala, que pouco conversava e muito bem se vestia. Chamava a atenção, claro, até ela fuxicar com um amigo a respeito de um paquera de outra amiga que não tinha braço. Eu me senti completamente vítima de bulling (risos). Mas nunca passou na minha cabeça ter algo com ela.
Como estava com o notebook, viciada que é até hoje começou a mexer na internet e invadiu a pasta de fotos. Clicava, passava, observava e perguntava o que era. Cachoeiras, mulheres, um cachorro, cavalos, festas, som, amigos, abraços e festas. É o que você certamente vai achar nas minhas fotos. Todas dignas de histórias que se eternizaram com a consumação.
Outros dias se passaram, saí da sala com mais quatro colegas. Ela ficou na sala comentando com uma amiga que tinha conhecido um menino interessante. Bonito, gente boa, tem um cavalo, um cachorro, é do interior, você precisa ver, amiga - Contava o babado – Só que como ela costuma brincar, eu já tinha o presunto do meu pão.
Ansiosa pra ver o tão comentado e elogiado menino do interior, os quatro colegas que haviam saído da sala entravam de um por um. Entrou um, entrou dois, entrei, entrou o ultimo. Indignada sem saber o que fazer, a amiga falou pra tal.
- Mas amiga... cadê o menino?
- Oxe! Ele acabou de entrar... é aquele de calça e camisa branca.
Não... aquele menino ali não poderia ter todos os adjetivos que uma relava pra outra. Não mesmo. Cadê os músculos? Cadê o charme? É... Além dela não ter citado, é esse o padrão ideal de beleza e que não vão me ver assim nunca.
A gente foi se conhecendo, conversando até que na calourada da faculdade (Bar da Zélia) uma menina bêbada caiu, quebrou a sandália havaiana e eu ajudei. Levantei, perguntei se tava bem, a galera vaiava e eu botava aquele botãozinho da sandália lá pra dentro. Pronto... Aquilo foi o estopim! KKK – Não fazia idéia que ajudar uma pessoa seria tão encantador pra quem ta de fora. Ela tava só me observando, diria até que seguindo meus passos, mesmo que muitas das vezes, passos virtuais. O que eu não gosto, não suporto.
Dias depois acabei com a namorada. Uma seqüencia de conspirações, conversas, barreiras, e por fim, um depoimento. Já vi coisa pra terminar namoro, mas igual internet, tão pra inventar.
Mais a vontade pra conversar, me apegava a aquela figura, conversávamos sobre faculdade, sobre a cidade, Jacobina, futuro. Me apegava de verdade, mas como um amigo, como dizia sempre. Dia desses lembrei que ela me mandou uma música de Nando Reis e disse: Eu vou mandar essa música quando eu me apaixonar por alguém. Eu lá sabia que ela já tava mandando a música pra o tal, só queria escutar a música e ouvir o grave do rock. A gente ficou, foi ficando, curtindo, só que faltava um pouco mais pra ela. Claro que faltava. Só eu não via, ou talvez não queria enxergar. Chegou ao cúmulo da minha lerdeza quando fomos pra um show de Saia Rodada (claro que ela não gosta – só ouve por osmose, assim como todo mundo que tem uma relação mesmo que seja mínima comigo) e eu, mesmo me arrumando na casa dela, programado pra dormir na casa dela, fico com uma outra pessoa. Eu não sabia que existiam planos praquela noite. Eu não sabia que tinha que ficar com ela, mesmo tendo a obrigação, digamos que tácita – kkk – o mínimo que eu tinha que ser era homem, ou pelo menos me tocar.
Raiva, choro, promessas de mais nunca, antipatia. Provoquei muitos sentimentos, todos derivados de uma paixão, mesmo ela não admitindo. Acho que a partir daquele dia me toquei de tudo, até das coisas que estou escrevendo aqui. Voltamos a ficar, me expliquei, como bom advogado que sou contornei a situação, até que não era muito difícil, já que quando a verdade é dita, tudo fica mais fácil. Tudo não passou disso... Aliás, foi tudo isso!! Foi um verdadeiro lance, como diz a música da moda. Como tudo em minha vida, muito válido, muita aprendizagem, valeu muito a pena.
Tenho ela como uma figura extremamente importante na minha adaptação na capital, uma amiga de verdade, apesar de ter comportamentos reprováveis em grande parte dos momentos que passamos juntos. É bom pirraçar ela de manhã na faculdade, chamar de gorda e dizer que ela vai pra academia comer coxinha. Como prometido, na formatura eu vou dar o tão sonhado beijo que ela quer pra ver se me deixa em paz e volto pra Jacobina com a consciência mais leve.