Nem
terminei de escrever o título e a garganta travou.
Não foi hoje, ontem e nem essa
semana. Foi dia 31 de dezembro de 2014.
Eu não queria escrever com a
coisa quente, porque pareceria aquelas declarações que fazem por ai no calor da
emoção. Pareceria que era qualquer cachorro, mas não era. E vocês sabem disso.
Quincas chegou por aqui quando
compramos esta casa, lá em 2008. Imaginava que ele ficaria com a gente pelo
menos 12 anos, já que tinha a informação de rua que a raça dele é frágil,
apesar de às vezes agressivo e forte. Queria eu. Ficou a metade e se foi.
Quincas chegou e não conquistou
todo mundo. Ele trouxe desconfiança, medo e até chateação, afinal, papai não
queria cachorro em casa. Na outra casa entrava muita gente e nessa não seria
diferente. As pessoas continuariam indo, os trabalhadores continuariam vindo
receber, pegar fardas, assinar papéis, etc. Um Rotweiller se mostraria, nessa
ocasião, um transtorno fora de série.
Eu e Gi apenas cuidávamos dele,
apesar de o dinheiro vir deles. Na época acho que namorava com Maiara, daí a
gente comprava ração, dava remédio, cálcio, vitaminas e tudo que havia de droga
pra eles ficarem tinino.
Lembrei agora que um dia na casa
de rações o vendedor perguntou se éramos irmãos. Parecia porque brigava demais.
Ele descobriu isso em uns dez minutos de tentativa de comprar alguma coisa.
O tempo passou, Quincas criou
suas manias, outras a gente inventou pra ele, mas o que importa mesmo era a
felicidade que aquele bagunceiro trazia pra gente.
Na época de pagamento ele ficava
preso até o povo chegar. Assim que chegavam era solto e papai dizia:
- Em quem ele “mijar” é bandido.
O cachorro é ensinado.
Como fazia “xixi” em tudo que
era lugar, ele saia perna por perna, e os rapazes pedindo pra ele sair. Papai
se acabava de rir e completava:
- Só tem bandido, rapaz.
Eu fui embora pra Salvador
depois de pouco mais de um ano com ele. Nas minhas ligações pra Gi nunca
deixava faltar a velha pergunta:
- Cadê Quincas?
A resposta eu acho que era a
melhor.
- “Tá aqui!” Dizia Gi.
Nesses cinco anos de faculdade
acabou que, além de Gi, papai se tornou um amigão de Quincas. Era falar em
prender que ele dizia da desnecessidade. Era passar um dia sem caminhar e logo
sentia falta.
Caminhar...Caminhar esse que já
foi alvo de problemas, já que um Radialista esbravejou nos microfones da rádio
que era um absurdo o vice-prefeito de Jacobina andar por aí com um cachorro
daquele tamanho e com tamanho potencial agressivo sem coleiras e sem focinheira.
Eu às vezes também achava, mesmo tendo a certeza de que ele não faria nada com
ninguém, como nunca fez nesse tempo que nos brindou com sua presença.
As histórias dele são infinitas,
de forma que um livro seria pequeno para descrevê-las. Livro que originou o seu
nome Quincas Borba, de Machado de Assis.
Apaguei a outra metade do texto.
Não quero mais escrever. Só vim mesmo porque acho que vocês também têm o
direito de saber que ele não tá mais por aqui e dizer obrigado ao nosso amigão.
A gente nunca vai esquecer.
Minha cabeça não para e minha
mão quer digitar...vou nessa, abraços.
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