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quarta-feira, 18 de agosto de 2010
A fome de Marina
Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: "Lula é analfabeto". Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, "porque ela tem cara de quem está com fome".
Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.
Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.
Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.
Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.
De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.
A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio."Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel.../ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!".
Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.
A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?
O mapa da fome
A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.
Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.
Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.
A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.
Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.
Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.
Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.
Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.
Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.
Tudo vira bosta
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, "o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta".
Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - 'Se Manca' - dizendo a ela: "Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca".
Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - 'Você vem' - ela faz autocrítica antecipada, confessando: "Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem... e faz piada". Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: "Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você".
A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, "ela tem cara de professora de matemática e mete medo". Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.
Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?
Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, "il péte de santé".
O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil...
Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.
Por José Ribamar Bessa Freire
(Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)
ESTOU POSTANDO ESSE TEXTO NO MEU BLOG A PEDIDO DA PROFESSORA LAURA, DA COMUNIDADE DO ORKUT "MARINA SILVA".
A campanha já começou, está fervendo e precisamos do seu apoio e do seu VOTO de confiança. É muita gente boa, formadores de opinião, personalidades brasileiras nessa luta. Seja mais 1 pelo Brasil.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Rei do Cabaré
Muitos dos que estão lendo sabem do meu apreço pelo Forró, especialmente pelo Saia Rodada. As músicas de Forró falam muito de mulher, de cachaça, de cabaré, o que me deixa super familiarizado com tais coisas.
Dia desses fomos todos nós amigos, conhecidos, parentes e aderentes para o Forró de Jacobina, reencontrar a galera. A noite começou cedo, porque por volta das 18h já estávamos na ativa, litros e litros de vodka com energético, animando e movendo a turma. Com muitos acontecimentos nessa festa e em seguida seu término, fomos pra casa de Daniel ajeitar os últimos detalhes. Jéssica Liz em águas, Rafael deitado no chão, caroços de feijão, caldo de arroz na cama de Neto, etc... Coisas que merecem outra página virtual. rs
Pensando que já era lá pras tantas, perguntei o horário a Dips, me surpreendo pelo tempo que nos restava naquela noite.
Sara havia emprestado o carro pra gente curtir aquela noite (Ow menina boa), pois, para nós quatro (Cleuber - Daniel - Edivan - Gabriel) só nos faltava um carro para fazer tudo aquilo que queríamos. Saímos sem destino, havíamos sido convidados por Isinha Forrozeira - amiga minha aqui da capitá - para ir pro Forró de Macaúbas. Achamos o tal lugar e compramos os ingressos. Quando fomos entrar, eram quatro entrando, quarenta saindo. O que diabos a gente ia fazer lá? Voltamos pra bilheteria e usamos o nosso dom teatral, insinuando que um amigo tinha se acidentado e que precisávamos devolver as entradas. Mais uma vez sem destino, porém, com carro. Surge então a idéia brilhante...
Vamos comer? Topo. Por que não? Vamos cair pra dentro!
Chegamos ao porto da barra e passeávamos via orla, circulando ela toda até chegar em frente a conhecidíssima Maddre. Paramos o carro e fomos em direção a algum bar, movimento que sanasse aquela nossa vontade de fazer algo. Algumas meninas na porta nos convidavam – indiretamente - para entrar num bar chamado “Salve Salvador”. Ao entrar encontramos com uma ex colega de sala, nos surpreendendo com o seu comportamento nada comum, um pouco exagerado, inesperado, como queira. Com uma trilha sonora animadora, muita cerveja, mulheres ao redor, mesas de jogos e iluminação enlouquecedora, ficamos naquele clima de amizade intensa misturado com filme americano. Terminando parte do dinheiro fomos então realmente comer algo pra então dormir. Chegando num determinado local, avistamos lá adiante uma luz ofuscante e atraente, chamando pra entrar também, mas dessa vez diretamente. Eram moças lindas com gestos excitantes. Um olhou pro outro rindo e pensando a mesma coisa. Dips, todo ousado e ao mesmo tempo muito íntimo com os homossexuais, foi negociar com Jesus, o dono do cabaré de luxo. Ele efetuou o pagamento, não sei como, e em seguida entramos. Era tudo muito bonito e interessante, luz e som ambiente, mulheres a espera de companhia, garçonetes, local para danças... Tudo muito novo para absolutamente todos. Cheguei e soltei um arroto daqueles, o que arrancou alguns comentários.
- Esse porco eu não quero que nem se encoste a mim! Esbravejou uma dona.
Daniel chegou intimando, na maior pose.
- O que vocês querem beber?
Uma dona, toda saliente, disse:
- Quero Uísque, gostoso!
Eu, na maior ignorância do mundo todo disse que ela ia beber uísque na casa da porra, não com a gente! Rs
Conversa foi, conversa veio e resolvemos sair com uma coleguinha. Sabe o preço? A menor era 350,00! Como sair? Uma ruma de liso...
Quando Eu e Daniel, os únicos solteiros e desimpedidos resolvemos sair com uma das, acertamos preço tudo certinho, ele me vem com uma novidade!
KEU! KEU! Corre! A mulher não é mulher!
- Como é isso, Daniel?
- Ela tem uma pinta!
Como estava mais calmo, um pouco mais experiente, fui conferir a mercadoria, descobrindo mais adiante que não seria um pênis, apenas a calcinha dela enrolada dentro da bichana. Fomos tirar dinheiro no supermercado, só porque a mulher não passava crédito nem aceitava cheque pra trinta dias. Quando saímos do cabaré de luxo, o dia já raiando, o fogo abaixando e amizade, o mais importante dessa história besta, mais uma vez aumentando, fortalecendo e embelezando nossas vidinhas boa e aperriada.
Daniel e suas prostitutas... Nunca vi ter sangue doce desse jeito não! rs
Foto - Keu - Dips - Caps
Faltando Daniel - Infelizmente não temos foto juntinhos! :D
Se alguém tiver, me manda.
Valeu galera. Adoro contar besteira...
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Votar de graça?
Vem se aproximando o grande momento, as eleições do dia 3 de outubro onde escolheremos nossos deputados, senadores, governadores e presidente. Thiago Pellegrini Valverde caracteriza o voto como o "verdadeiro exercício da cidadania, a maneira mais eficiente e cristalina de exercício da soberania popular". O que vem a ser SOBERANIA? É aquele poder absoluto, inquestionável, supremo. Você tem essa soberania, essa supremacia e a faculdade do voto, podendo fazer valer através do seu voto uma esperança e um novo rumo pra uma suposta mudança. John Locke dizia que o governo não deveria pertencer ao príncipe, mas ao povo, que seria, na verdade, o único soberano. Nunca ouviu falar que o poder emana do povo? Mas, afinal, qual a importância do voto? O que ele efetivamente muda na vida das pessoas? O que têm a acrescentar? Vivemos um momento de mudanças, de grande expectativa e aspirações nacionais. O voto é nossa arma mais poderosa para mudar um País.
Dia desses ouvir dizer por aí que o único que votava de graça era "Fagundes". Seria esse motivo para me orgulhar ou mais uma indagação a ser feita?
O ato da democracia é baseado em alguns princípios tais como a igualdade, a liberdade, a legalidade e o direito de oposição. Oposição! Isso ele sabe fazer, e bem! O ato de se opor a alguém não perpassa pelo sentido de atingir, aperriar, atrapalhar ou destruir algum trabalho que venha a ser feito e sim, cobrar em prol do tão bem comum, por mais restrito que seja o lugar. Acho que nos falta esse sentimento de nacionalismo, pois, como bem disse Thiago Pellegrini Valverde (Professor de Direito Constitucional, Administrativo e Direitos Humanos e Mestrando em Direitos Difuso) só reconheceremos o valor da democracia quando depois de violados ou conculcados, durante repressões, ditaduras ou terrorismo.
Dia desses ouvir um causo, coisa que gosto muito!
Interior de Minas Gerais, pacata cidade na época dos coronéis e dois líderes políticos, sendo eles compadres. Um dos, com algumas crises locais, teve que fechar o seu armazém, fonte de renda da família, ficando devendo então, duas duplicatas para o compadre que seria o outro líder político. Na tentativa de sanar a dívida ele propôs:
- Rasgue as promissórias e venha pro nosso lado.
O outro senhor, indignado, respondeu inteligentemente:
- Compadre, pensei que o senhor me conhecesse...
Quero então ficar para sempre votando de graça.
domingo, 1 de agosto de 2010
O criminalista -
O criminalista é um sacerdote, e, como sempre assevera Luiz Flávio Borges D’Urso, como sacerdote, deve odiar o pecado, mas amar o pecador, deve repudiar o crime, mas acolher sob o manto da defesa o acusado da conduta criminosa. Isso fica evidente quando alguém comete um delito e, nesta hora, todos se afastam dele. Afastam-se os parentes, os amigos, a mulher, os filhos, esquecendo que dentro daquela figura vilipendiada, desfigurada pelo crime, existe uma alma, um resquício da própria imagem divina.
Quando todos o abandonaram, o criminalista está ao seu lado, quando todos lhe deram as costas, quando todos o incriminam com o dedo em riste, quando todos o acusam, encontrará o ombro, os ouvidos, o coração e a beca do criminalista como uma armadura sempre pronta para a guerra do processo criminal. Aconselhando, orientando e, sempre dentro da lei, buscando o melhor e mais vantajoso caminho para o seu cliente.
Com isso não estará o criminalista protegendo o criminoso, ou fazendo chicana da justiça. Com isso não estará o criminalista colocando lobo em pele de cordeiros, mas sim garantindo ao réu um julgamento pautado na legalidade e na justiça, buscando a pena na sua medida certa quando o acusado for realmente culpado. E, somente dessa forma, poderá se aproximar do Nazareno quando afirmou: “Eu não vim pelos santos nem pelos sábios, eu vim pelos pecadores”.
Por Fabiano Pimentel.
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