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sábado, 12 de novembro de 2011

Papai e Mamãe


Ontem a noite recebi uma ligação de Sara chorando, dizendo aos prantos que mamãe havia quebrado o braço. O fato de ter sido um incidente realmente é preocupante, mas quebrar um braço é algo normal, não foge muito do nosso controle. Sem receber notícias e já acostumado a ser o ultimo a saber das coisas, só vim ter informações lá pra uma da manhã, através de uma prima que tava lá por casa, auxiliando mamãe.
A madrugada foi toda de especulações, conversas e suposições de como teria acontecido, porque teria acontecido e, por fim, as sábias palavras de Gi: Foi porque Deus quis.
Hoje pela tarde papai e mamãe chegaram aqui em Salvador por volta das três da tarde. Também como sempre, desci pra pegar as malas. Como não tinha nada pra se pegar, encontrei com papai no hall do elevador rindo e rangendo os dentes (a parte de baixo é chapa). Perguntei por mamãe. Disse-me que ela não iria subir por causa das dores. Fiquei no carro conversando com ela, descabelada, com uma tipóia, e muito, muito triste. Planos e mais planos pra esse final de semana prologado com o feriado da Proclamação da República. Não seriam viagens, passeios. Os planos eram focados no que ela melhor sabe fazer, trabalhar; O que de certa forma irrita o povo daqui de casa. Vô Ananias também estava nos planos dela, afinal, ela, Tia Lucinha e Liliana são hoje as grandes resposáveis pelo patriarca.
Quando papai desceu com Sara, Gi e Dips, saí do carro pra eles irem até a clínica e mais uma vez vi papai sorrindo diferente, com aqueles dentes pra fora, atordoado. Comentei com Gi: Papai tá preocupado. Tá mesmo, completou Gi.
Final de tarde e eles retornam do médico, mais aliviados, com radiógrafias em punho e boas notícias. Ele gosta muito de crer nas coisas, dizia pra si mesmo: Não vai precisar operar não.
Agora há pouco, antes de levantar perto da meia noite e vir escrever isso, estava deitado na minha cama com ele, cochilando e assistindo o maldito Zorra Total, que até tá um pouco engraçado. Nos intervalos dos cochilos, ele se revirava e dizia pra alguém, menos pra mim. "Tô com sono, parece... dei até uma cochilada. Essa noite não dormi nadinha. Já tá na hora do remédio?"
Quando ouvi isso meio em forma de sussuros, pensei comigo. Rapaz, que sensação boa. Será que é preciso uma situação de urgência pra gente dar valor as coisas? Que relação boa essa de papai e mamãe.
Eles não estão em crise dos vinte anos de casados, muito menos separados judicialmente e vivendo na mesma casa de aparência. É que formam um casal diferente, completo.
Na hora da janta sentamos os cinco (Eu, eles, Sara e Gi) numa mesa com quatro lugares, improvisando um banquinho que faço questão de sentar. Conversamos, comemos, nos olhamos. Mamãe sem jeito falou: "É Zé Maria, sua mulher tá doente!" - Papai, mais sem jeito ainda e baiano de uma vez por todas, respondeu: "Oxi! Isso é besteira." Essas duas frases eu vi completamente diferente, e poderia aqui, com a maior facilidade do mundo transcrever em uma cena diferente, como aquelas que a gente vê no seriado "Todo mundo odeia o Chris", onde uma coisa é falada mas outra é transmitida.
Cabe a vocês, portanto, se imaginar vivendo essa cena, se é que eu consegui passar a mensagem. Vou dormir feliz, querendo dividir a dor do braço quebrado de mamãe ao lado de um grande homem.
Que pena que eu e Sara não fomos criados habituados a falar "Eu te amo" aos nossos pais. Quem não foi sabe como é difícil, mesmo que, num momento como esse, a gente queira infinitmante dizer:
Papai, mamãe, a gente ama vocês!!

Um comentário:

  1. Que texto lindo. Você, pouco a pouco, surpreende mais quem não te (re)conhece! :D

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