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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Jardim do Campinho

Mais uma noite que acordo e venho escrever. É que percebi que fazia tempo que eu não me benzia. Aquele em nome do pai, filho, espírito, santo e o amém. Lembrei de alguns amigos. Luan, irmão de Luquinhas, e de Lucas cabeção. Luan lembrei porque ele sempre dizia que antes de dormir rezava, caso estivesse cansado, era no mínimo um pai nosso. Era um ensinamento bonito que aprendera com sua avó lá do balneário. Hoje a gente se cruza pelas ruas e um “oi” é tudo. Esse outro amigo é Lucas. Filho de Leu e Iran. Irmão de Igor, Bim e Juninho. Eram quatro irmãos. Sim, eram quatro. Lucas faleceu num acidente de caminhão em 2010 ou 2011. Amigo/primo do meu amigo Terão e Cley, filhos do saudoso Leão e Tereza, Lucas era criança como eu, brincalhão como eu, porém um pouco mais velho. Acho até que papai não aprovava nossa amizade. Cheguei até a passar um final de semana no sítio dele. Ficava na serra da pingadeira, alí depois da Vila Feliz, bairro jacobinense. Lembrei dele ao lembrar do campinho. Terreno baldio que fica vizinho a minha antiga casa. Lá a gente brincava de tudo, só precisava uma boa sandália pra proteger dos terríveis espinhos. Pensando em acabar e fazer daquele terreno infértil algo produtivo, iniciei com Lucas, com minhas invenções agrárias, um jardim. Regamos por alguns dias, botamos terra, barro e até trouxemos um saco de esterco para adubar o solo. Plantamos todos os tipos de flores. Plantamos também coentro, alface e cebolinha pra vender na quitanda dele. Acho que pegava a minha parte em bolas de gude ou chupava melancia por conta da casa. O jardim era lindão. Vivo, feliz, bem cuidado, com pedras ao redor de cada flor plantada. Arrancava até elogios das velhinhas insuportáveis lá da rua. Hoje, muuuito tempo depois, estou aqui contanto um pedaço de uma história pra vocês. Falar que Lucas era meu melhor amigo é bobagem. Tivemos nossa fase de andarmos juntos, aprontarmos, brincarmos. Porque a vida é feita disso. É feita de pessoas que passam por nós e deixam sua marca, mesmo que seja pequena, que seja um jardim plantado no quintal emprestado da sua casa. Espero do fundo do meu coração duro e lacrimejoso, que papai do céu tenha guardado um bom lugar pra ele. Mais um jovem nas estatísticas em mortes acidentais nas rodovias.

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