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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Todo mundo tem Direito


Devem estar pensando... “Ô mô pai! Lá vem Keu com o que ele aprende na faculdade”.
Ah se fosse...
Eu sei que todo mundo tem direito a vida, moradia digna, previdência, ir e vir, entre outros direitos fundamentais. Mas, mais do que isso, todo mundo tem direito de ter uma “Gi” na sua casa, porque pai e mãe todo mundo tem, quero ver você tem uma terceira pessoa, sempre ali do seu lado.
Uma avó, uma tia mais próxima, um primo mais velho que cuida de você, um cunhado engraçado ou uma irmã chata sempre existem. E uma outra pessoa? Sem absolutamente nenhum vínculo sangüíneo? Será que pode entrar na sua vida sem um pedido de licença?
Era tarde de 1988, na ladeira do hospital regional, na cidade de Jacobina, subia um carro e descia uma menina. Jovem, negra, sem dinheiro, sem perspectiva de vida e desacreditada a procura de um emprego. Essa era Gicélia Rodrigues dos Santos, nascida no município de Piritiba, distrito de Mançambão, um pequeno povoado cercado pela seca e, pequenas plantações de mandioca.
Filha de Dª Júlia e “T”, o qual nunca tive o prazer de conhecer, sempre foi uma jovem trabalhadora, ajudando sempre os seus pais na roça, dentro de casa e com os irmãos mais novos. Sua mãe me contou um dia que tava pra ver menina mais forte e corajosa. Nas roças de feijão ela sozinha carregava um saco de 60 kg, querendo ali, através do seu trabalho, realizar seus desejos de adolescente. Junto com a irmã Sonia, trabalharam um ano intensamente só para no natal, festejar com uma sandália nova que comprara em Miguel Calmon e uma nova colcha de retalho, para se agasalhar no frio da casa sem forro.
Como vinha dizendo, papai com um santo mais do que forte, como mamãe costuma dizer, olhou pra essa morena e falou:
- Quer trabalhar, essa menina?
Pronto! Bastou aquilo para ela ir até a nossa casa e substituir uma outra moça. A relação eu não sei te dizer como era, até porque só nasci em 1992, só sei te dizer que existia uma confiança fora do comum, ao ponto de o nossos viajarem e deixar Sara com essa moça.
Nasce então, o mais bonito do nordeste, que hoje escreve esse relato, o tal do Cleuber Augusto de Souza Fagundes. Com a minha chegada, Gi já havia ensinado Sara a caminhar, dançar, correr, brincar e, pouco mais de 3 anos de trabalho na casa. Mudamos então pra rua cônego samambaia, no leader, e lá estava Gi conosco.
Mudou quase tudo na casa, menos a pessoa que cuidava da gente. Os nossos amigos, meus e de Sara, sempre questionavam meio que assustados...
- Oxente! Por que ela reclama com vocês? Chega a dar umas tapas? Ah se fosse lá em casa!
Eu respondia (acredito que Sara da mesma maneira, ou pior):
- Ela pode. É minha segunda mãe. Fica na tua, caralho!
Um dia tava dormindo, meio cansado da noite anterior e ela sentou na outra cama que tem no meu quarto com pares de meia e dezenas de cuecas. Fiquei observando assim meio de canto de olho e comecei a chorar. Besteira, não é? Mas, fazer o que? Sou assim! Tinha muito mais do que o simples fato de dobrar minhas meias. Era um olhar carinhoso, um pegar diferente naquele pano que uma hora eu iria procurar e estaria ali, do jeitinho que ela faz.
Amada por muitos, odiadas por alguns, respeitada por absolutamente todos. Esse jargão besta é a cara de Gi, pois sua firmeza, caráter, integridade e conduta sempre a-feram uma mulher respeitada e respeitosa, acima de tudo.
Acompanhou todo nosso crescimento. Do primeiro passo dado no chão até o passo mais recente, o ingresso à faculdade.
Hoje ela tem o respeito e o carinho de todos os meus amigos que a tem também como uma amiga, uma mãe que os recebe lá em casa sempre de portas abertas ou não. (risos)
Como profissional é o tipo que toda casa teria que ter uma. Excelente feijão, dedicada, compromissada. Como pessoa, no mundo não tem igual. Portanto, acho que toda casa, todo jovem merecia os conselhos e suas reclamações. Todo mundo tem direito a uma Gi na sua vida, porque só assim o mundo seria um pouquinho diferente.
Espero então, do fundo do coração que ela nunca saia das nossas vidas, como um dia me prometeu dizendo:
Vou embora! Ja cumpri meu papel, né Keu? Já tão grandinho, podem ficar só!
Aquilo doeu tanto que não tive coragem de responder. A briga por ela vai ser grande, porque Sara, por mais irracional que seja, também teria muito prazer em tê-la pra educar seus filhos, mas quem terão esse privilégio, serão os meus.
Ahh! Coitada da minha mulher!
Ow ciume retado! rs

3 comentários:

  1. melhor texto desse blog!!!!! Gicélia é figura ímpar mesmo, essa relação de vcs é muito linda - ADMIRÁVEL, pode crer!! E perceber a grandeza do papel dela na vida de vcs é tb mt massa!!
    "Tdo mundo tem direito mesmo"

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  2. Muito lindo como você escreve Keu! Lindo o texto e como você consegue transmitir aquilo que sente. Humilde e muito simples! Adoro seus textos...

    Taiana Jambeiro

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