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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Meu cavalo Divino


Já foi declarado aqui o meu apreço pelo Divino Espírito Santo, que nasceu da paixão pela montaria. Gados, cavalos, porcos, galinhas, presentes, quitutes, roupas vermelhas e uma festa da Igreja com um fim social interessante.
A festa acontece na cidade e num distrito, conhecido por muitos, a bela Itaitú. Como acontece dias depois, da pra ir pras duas festas. A diferença é que o cortejo acontece no mesmo dia do leilão, aproveitando a visitação na cidade.
Em 2003, com onze anos, acordei logo cedo, botei minha botinha e fui com papai. Um Corsa azul que aprendi a dirigir nele. Passamos na casa de alguns amigos e seguimos viagem. Os amigos estavam fazendo resenha com a gente, chamando de maluco, por me deixar dirigir. Passado o cortejo, a missa, o almoço, por volta das três da tarde começou o leilão. Os animais não eram do mesmo nível do que acontecia na cidade, mas eu sempre tava por alí, observando, doido pra ter um pedacinho de terra pra poder ter todos aqueles bichos comigo. Tinha um animal no meio de tantos que eu gostei muito. Ele chamava a atenção dos mais experientes da vida do campo. Como achei que valia muito, pedi a papai para brincar, pedi para dar lance no animal, que eu achava, até então, que fosse uma égua. Na verdade era um potro ainda sem as favas (testículos). Com a autorização de dar lance até 300 reais, eu me aproximei e quando o leiloeiro perguntou, eu gritei:
- Trezentos!!
Papai, numa expressão de desespero me chamou. Enquanto isso o leilão continuava.
- Ô rapaz, e agora? A brincadeira acabou. Se eu disse que você tinha até 300, era pra vc começar com 50, pra poder dar vários lances.
Ainda querendo mais, pedi pra oferecer só mais um lance.
Dessa fez ofereci 630 e dei um legal pra mesa onde eles estavam, já que dessa vez eu tava mais esperto. Fiquei lá, só assistindo a briga pelo animal.
Papai mais uma vez me chamou e dessa vez não entendi o motivo.
- Ei, sente aqui. Vamos só assistir agora. Hildebrando teve aqui e disse que o animal não era bom. Se tu comprar a gente vai botar esse bicho onde? Tudo tem seu tempo!
Eu não conseguia entender o porquê daquilo. Não sei se vcs repararam, mas no início do texto eu disse que tava no meio dos mais experientes, ouvindo e aprendendo. Acontece que eu ouvi que aquela era uma doação do que não me deixava mais oferecer lance.
Pior!!! Ele dava lance no cavalo...ficou um bom tempo brigando lance com um senhor até comprar por 820,00. Eu não conseguia acreditar mesmo.
- Arrematado! Cavalo doado por Hildebrando Cedraz e adquirido pelo mesmo. Volta pra fazenda.
Ele se dirige até o locutor, pede permissão, agarra o microfone e fala:
- Boa tarde, amigos devotos do nosso Divino Espírito Santo. Doei e arremetei esse cavalo pra presentear um pequeno amigo. Ei, rapazinho. Esse cavalo é seu! Venha busca-lo.
Eu não conseguia acreditar. Um cavalo pra mim? Era o que eu mais queria... Eu chorava que me acabava. Escondi o rosto debaixo dos braços de papai que dava algumas tapinhas nas minhas costas, todo sem graça também. Meio sem jeito, levantei e fui agradecer pelo presente.
Já calmo, me faltava um lugar pra acomodar meu mais novo animal. Foi ai então que conheci o seu Manoel, pai do meu hoje amigo, Neneu. Soltei o animal e alguns dias depois voltei para busca-lo na fazenda de Hildebrando. Lá, mais uma vez uma grande surpresa. Tinham oito animais, um mais bonito que o outro, porém, todos novos, valentes, sem traquejo. Pediu para que escolhesse um. Mantive a escolha pelo animal do leilão. Voltei pra casa feliz da vida, realizado com um dos melhores presentes.
Se ele deu porque era político ou não, isso não me importou na hora nem me importa hoje. O que importa que sempre o-vejo na rua e o filme passa na minha cabeça. Sempre o cumprimento, aperto a sua mão, aceno, e muito grato por ter feito um menino mais do que feliz naquela tarde de julho de 2003.

Um comentário:

  1. Bom saber que meu pai fez você feliz também, nem que seja por um dia! Ele vai gostar de saber Keu.. Beijo

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